quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Na esperança, o homem


Da cabeceira do rio, as águas viajantes
não desistem do percurso.
Sonham.

A seca explode no leito vazio
e a pele enrugada da terra seca e
sonha.

O barco espera.
O sábio contemplativo aguarda.
O homem, ao peso de qualquer lenho,
Não se curva.
Sonha.

Sonha e faz
com o suor de seu rosto,
com a água de seus olhos,
com a fluidez de sua alma,
cospe e cospe no solo
amolecendo a pedra bruta.

Faz e sonha.

E no outro dia, no amanhã de muitos
outros dias, a vida ressurge fértil,
úmida,
alimentada pelo seu hálito.

E que venham todas as secas,
o homem esperançoso
há de vencer.

Conceição Evaristo. Poemas da recordação e outros movimentos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Malê, 2017. p. 55-56.

Um comentário:

Wendel Valadares disse...

Uau! Que poema maravilhoso. Não conhecia esse livro da Conceição.